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Enarmonia: aprenda o que é, como e por que funciona

Você sabe por que Si# e Dó são “a mesma nota”? Entenda o conceito de enarmonia na música!

A música é uma linguagem universal repleta de nuances, e aqueles que a exploram profundamente muitas vezes se deparam com termos aparentemente misteriosos, como enarmonia. Mas, afinal, o que é enarmonia?

Aluno de teclado estudando enarmonia
(Foto: Reprodução/Freepik)

Neste artigo, vamos nos aprofundar nesse conceito intrigante e exploraremos as notas enarmônicas, oferecendo uma visão aprofundada sobre como elas moldam o universo sonoro.

Assim, você conhecerá tudo sobre esse conceito fundamental para músicos de todos os níveis. Nesse sentido, vamos desvendar o mistério de como e por que a enarmonia funciona, além de conhecer suas implicações na harmonia e na criatividade musical.

O que é enarmonia na música?

Enarmonia é um conceito fundamental da teoria musical, que se refere à equivalência de notas ou acordes com diferentes nomes, mas que, na prática, possuem o mesmo som.

Isso ocorre devido ao sistema de afinação da escala cromática que utilizamos na música ocidental e à maneira como as notas são nomeadas. Em outras palavras, notas enarmônicas são aquelas que possuem sons idênticos, mas nomes diferentes.

O exemplo clássico é o caso das notas Si# e Mi#. Essas são notas enarmônicas, pois produzem o mesmo som, porém são nomeadas de maneira diferente, dependendo dos contextos harmônico e tonal.


A compreensão da enarmonia é essencial para músicos, compositores e teóricos musicais, pois ela desempenha um papel fundamental na harmonia, na notação musical, na criação de músicas e na análise musical.

Ter clareza e domínio sobre as relações de enarmonia é importante para a interpretação de partituras, improvisação e composição musical. Isso porque permite que uma ampla gama de possibilidades sonoras seja explorada na prática.

Enarmonia e escalas musicais

A enarmonia pode ser amplamente utilizada em um tipo muito específico de escalas musicais: as escalas simétricas.

As escalas simétricas são escalas musicais em que a estrutura de intervalos entre as notas segue um padrão regular.

Diferentemente das escalas diatônicas (como a escala maior e a escala menor), que têm intervalos variáveis entre as notas, as escalas simétricas apresentam intervalos consistentes e previsíveis. Isso resulta em um caráter único e distinto.

Escalas simétricas

  • Escala Cromática: Uma das escalas simétricas mais simples, composta por 12 notas consecutivas, cada uma separada por um semitom. Isso cria uma sequência de intervalos idênticos ao longo de toda a escala.

  • Escala de tons inteiros (hexafônica): Consiste em intervalos de um tom inteiro entre cada nota e é formada por tons inteiros sucessivos. Isso significa que as notas estão separadas por dois semitons.

Representação de escalas de tons inteiros em Dó na partitura

No exemplo acima, é possível ver como a enarmonia funciona nessa escala simétrica. Repare que uma começa em e outra em Láb.

Além disso, note que, por enarmonia, a segunda escala poderia iniciar na nota Sol#, que manteria exatamente as mesmas alturas das notas, uma vez que Sol# e Láb são a mesma nota.

Por conta das propriedades simétricas dessa escala e das relações de enarmonia, só existem, na prática, duas escalas de tons inteiros.

Representação de escalas de tons inteiros em Si na partitura

O exemplo acima repete a ideia do anterior: são a mesma escala começando por notas diferentes. Novamente, a escala que começa em poderia ter sido iniciada com o Mi#. Dessa forma, ambas ainda manteriam as mesmas notas.

As escalas nesses exemplos (de e de Si) estão separadas por um intervalo de meio tom. Como ambas contém apenas 6 notas, a somatória das duas escalas contém todas as 12 notas do total cromático.

  • Escala Dominante-Diminuta (octatônica): Também conhecida como escala Dom-Dim, apresenta um padrão alternado de semitons e tons inteiros. Isso a torna uma escala simétrica peculiar, com uma sensação de tensão inerente.
Representação das escalas Dom-dim de Dó, Dó sustenido e Si na partitura

Os três exemplos acima são os únicos que existem de escala Dom-Dim. Cada uma delas possui uma escala correspondente a cada intervalo de terça menor.

As escalas simétricas têm um som distinto e, muitas vezes, são usadas para criar tensão, cor e textura na música.

Elas são encontradas em gêneros musicais como jazz, música contemporânea e trilhas sonoras de filmes, onde os compositores procuram explorar intervalos regulares e criar atmosferas únicas, além de adicionar complexidade à música.

Sistema temperado

Só é possível compreender o que é enarmonia atualmente por conta do nosso atual sistema de temperamento ou de afinação.

O termo “temperamento”, na música, refere-se à maneira como as notas são afinadas em relação umas às outras, em especial as notas que compõem uma escala ou tonalidade. É uma convenção adotada para estabelecer as relações de frequência entre as notas.

O sistema de temperamento mais conhecido e mais amplamente utilizado hoje é o temperamento igual, que divide a oitava em 12 intervalos iguais. Isso significa que a distância das frequências de cada semitom é a mesma. Esse fato é o que faz com as notas C# e Db, por exemplo, soem iguais.

No entanto, ao longo da história, vários sistemas de temperamento foram desenvolvidos, cada um com suas características únicas. Por exemplo, em alguns temperamentos você encontrará diferenças de frequência (as chamadas comas) entre notas como Sol# e Láb.

Portanto, existem distâncias de frequência menores que um semitom. Além disso, diferentes sistemas de temperamento foram criados para otimizar a afinação em tonalidades específicas ou privilegiando alguns intervalos puros (como as terças).

Outros sistemas de afinação

Existem vários tipos de temperamento em música, cada um com suas características únicas que afetam a maneira como as notas são afinadas em relação umas às outras. Alguns dos tipos de temperamento mais conhecidos são:

  • Temperamento pitagórico: Baseado nas proporções matemáticas das frequências sonoras (em especial, a do intervalo de quinta justa) o temperamento pitagórico é conhecido por ter intervalos muito puros, mas isso causa desafinação em determinadas tonalidades.

  • Temperamento meantone: Esse sistema de temperamento é conhecido por equilibrar a afinação de terças e sextas para melhorar a qualidade harmônica em algumas tonalidades, como Réb maior. Foi amplamente usado durante os períodos renascentista e barroco.

  • Temperamento ¼-comma meantone: Uma variação do temperamento meantone, que se concentra na afinação de terças puras, mas à custa de quintas ligeiramente desafinadas.

Esses são apenas alguns exemplos de sistemas de temperamento, e há muitos outros. A escolha do temperamento pode ter um impacto significativo na qualidade das harmonias e na expressividade musical.

Assim, diferentes tradições musicais e períodos históricos podem empregar sistemas de temperamento específicos para atender às suas necessidades musicais.

E aí, entendeu o que é enarmonia? Se curtiu, compartilhe este artigo com mais pessoas, para vocês conversarem e aprofundarem mais os conhecimentos.

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Foto de Marco Teruel

Marco Teruel

Marco Teruel é músico e violonista, com mestrado pela USC Thornton School of Music (EUA) e doutorado em música pela UFMG. Seus interesses musicais incluem o repertório do violão clássico, a música dos séculos XVI e XVII, a música brasileira e o heavy metal.

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